Direitos e riquezas dos povos originários são debatidos no 4ª Congresso da Complexidade e 6º Abril Indígena

Direitos e riquezas dos povos originários são debatidos no 4ª Congresso da Complexidade e 6º Abril Indígena
25 de abril de 2024

Defesa do direito à terra e a valorização das causas dos povos originários. Resgate e valorização de uma cultura. Resistência e a interlocução dos saberes. Estes são alguns dos objetivos da 4ª edição do Congresso de Estudos da Complexidade e do 6º Abril Indígena, eventos realizados pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) até esta sexta-feira (26).

Os congressos têm como objetivo ensejar os diálogos entre as áreas do conhecimento científico, na perspectiva do pensamento complexo, congregando professores e estudantes da educação básica, universitários dos cursos de graduação e pós-graduação. As atividades são voltadas às questões sócio-educativas, ambientais e culturais que permeiam as práticas e ações humanas nas suas conexões, conflitos e contribuições ao processo de formação profissional acadêmica.

O Abril Indígena, organizado pelas professoras Margareth Maria de Melo, Patrícia Aragão e Cristiane Nepomuceno, conta com palestras, mesas-redondas, feiras culturais, oficinas, minicursos e exposição de trabalhos. Para promover as discussões, a atividade conta com a presença de 30 representantes de três etnias indígenas: Tabajaras; Potiguaras da Paraíba, especificamente do Litoral Norte e Sul de João Pessoa, e o Kariri Xocó, de Alagoas.

As atividades acontecem até esta sexta-feira (26) no hall e nas salas de aula da Central de Integração Acadêmica Paulo Freire, no Câmpus de Campina Grande, instigando a valorização da produção científica baseada na transdisciplinaridade e diálogo entre saberes e práticas, sem negligenciar os aportes advindos dos saberes da tradição e as que transcendem as áreas isoladas das ciências e levam à compreensão da relevância das interconexões com os povos originários.

Uma das organizadoras do evento, a professora Margareth Maria de Melo, destacou que as atividades visam superar a fragmentação dos saberes e procurar valorizar, somar e agregar conhecimentos em torno da cultura indígena. Os dois eventos, conforme enfatizou a professora Margareth, estão servindo para instigar o debate em torno de temas voltados para a causa indígena, como a incansável luta pela terra e a riqueza dos saberes destas etnias.

“Durante todo o evento, os povos indígenas estão falando sobre a sua cultura, sobre o seu cotidiano, as suas lutas e conquistas. A grande luta pela terra, pela sobrevivência, e principalmente por uma educação que evidencie a sua história”, destacou a professora Margareth.

Abertura – Com tema “Etnodesenvolvimento, Sustentabilidade, Território, Educação e Culturas dos Povos Indígenas” a 6ª edição do Abril Indígena foi aberta na noite da quarta-feira (24), no Auditório 2 da Central Acadêmica Paulo Freire, com a proposta de valorizar e defender as causas dos povos originários.

A solenidade contou com a presença da reitora Celia Regina, da vice-reitora Ivonildes Fonseca, do pró-reitor de Cultura, José Cristovão Andrade, da pró-reitora de Graduação, Vagda Rocha e de docentes, estudantes e representantes das três etnias indígenas. Um dos momentos marcantes da solenidade de abertura foi a apresentação da Orquestra Sanfônica de Monteiro e das tribos indígenas que fizeram a tradicional dança do Toré.

A palestra de abertura “Diálogos Complexos” foi ministrada pela professora Izabel Cristina Petraglia, uma referência no assunto de complexidade. Promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi), que funciona no Centro de Educação (Ceduc), e Grupo de Estudo de Complexidade da Vida, o evento tem na programação a visita dos indígenas a várias escolas públicas de Campina Grande.

Lutas e resistência dos indígenas são debatidos em 4ª Congresso da Complexidade – Passados tantos anos, os povos originários ainda enfrentam preconceitos. Sua cultura, rica em significados e simbolismos, ainda é ignorada. Muitas leis que sugiram para proteger os povos indígenas, estão apenas no papel e, na prática, ainda não houve avanço. Tais inquietações foram levantadas na mesa-redonda “Território, Cultura: Resistência e Luta”, realizada no Auditório 2 da Central Acadêmica.

A atividade teve como debatedores os docentes indígenas Niedja Vigna Rufino da Silva e Gutemberg Rufino dos Santos, representantes do Povo Tabajara; além de Sueli da Silva Bernardo, mais conhecida como Potyra, que faz parte da mesma etnia, localizada na Aldeia de Gramame, Litoral Sul do estado. A atividade foi mediada pela professora Patrícia Cristina de Aragão, do Neabi da UEPB.

Durante a mesa redonda, os três representantes indígenas falaram de suas lutas, desafios e principalmente do enfrentamento ao preconceito e racismo que ainda é muito forte e atinge a etnia. “A lei aparentemente representou um avanço, mas ficou só no papel. As vezes o papel é tão bonito, mas na prática é diferente e fica muito a desejar”, expressou a professora Niedja.

Como professora, Niedja disse que tem procurado disseminar a cultura dos povos indígenas e toda a sua riqueza, mas encontra dificuldade para transmitir as informações até mesmo em sala de aula, visto que as comemorações ficam restritas ao mês de abril.

Ao trocar experiências com os professores e estudantes e falar de suas lutas, Sueli da Silva Bernardo, fez um desabafo e disse que ainda hoje os povos indígenas, negros e quilombolas ainda sofrem com os mais diversos tipos de preconceito. Particularmente, ela disse que tem sofrido na pele esse drama, visto que o seu filho enfrenta preconceitos na sala de aula por ser índio.

Um dos momentos que chamou a atenção dos presentes foi quando a indígena Potyra, revelou que o seu filho já foi vítima de preconceito da escola onde estuda, por ser índio. Segundo ela, o jovem já sofreu outros tipos de preconceito e até ameaças por defender a sua etnia.

Mediadora do evento, a professora Patrícia Cristina de Aragão, ressaltou que a atividade possibilitou aos participantes mergulhar na história e na cultura das Tabajaras e perceber quais são suas maiores lutas. “Aqui nós tivemos os professores Niedja e Gutemberg nos ensinando acerca dos povos indígenas a partir dos Tabajaras e a sua luta pelo território. Nós estamos no século XXI e, entretanto, os povos indígenas continuam lutando pela demarcação do seu território. Um território que não é apenas um espaço para viver, mas o espaço de memória, história e de experiência de vida”, destacou.

Riqueza dos povos originários expressos no artesanato e na dança – Riquezas de um povo. Artes que contam a história, os costumes e as expressões culturais dos povos originários. As pessoas que transitaram pelo hall da Central Acadêmica Paulo Freire durante os eventos foram surpreendidas pela riqueza dos produtos expostos em um feira cultural organizada pelos representantes das três etnias presentes no 4ª Congresso da Complexidade e 6º Abril Indígena. O ritual da dança do Toré, realizado pela tribo Kariri Xocó de Alagoas, mostrou toda a beleza e expressão cultural deste povo originário.

O representante da tribo, o cacique Uiaçuri, disse que estava muito feliz e grato à UEPB por convidar os indígenas para mostrar um pouco de sua cultura e falar de suas lutas. A tribo hoje conta com 5.500 índios, sendo que 11 deles vieram para os dois eventos. “É muito importante um evento deste que mostra um pouco da nossa cultura. É uma honra estarmos aqui. Os índios ainda são um povo esquecido e precisamos divulgar a nossa cultura e o nosso artesanato”, disse.

O cacique Uiaçuri enfatizou que mesmo tendo passado tantos anos, a principal luta dos índios ainda é pela terra. Ele relatou que a sua tribo vive nas margens do Rio São Francisco e hoje praticamente sobrevive do artesanato, visto que a pesca e a caça estão cada vez mais escassas.

Representante da tribo Potiguara, Damiana da Silva Fernandes, também destacou a importância do evento para mostrar as riquezas existentes nos povos originários. E enfatizou que a sua tribo também luta pela demarcação da terra. “É importante defender a nossa cultura. Esse é um momento para mostrar os nossos saberes” disse.

Além dos produtos trazidos pelas tribos indígenas, na feira cultural também estão expostos os produtos feitos pelas louceiras do quilombo Chã da Pia, localizado na cidade de Areia, no Brejo paraibano.

A organizadora do 4ª Congresso dos Estudos da Complexidade, a professora Márcia Adelino, explicou que este ano o evento este ano é comemorativo aos cinco anos de fundação do Grupo de Estudos da Complexidade e da Vida (Grecomvida). O Grupo é vinculado ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PPGCEM).
Uma das integrantes do evento, a doutoranda Cláudia da Silva Sousa, disse que a realização dos dois eventos em um mesmo espaço em um formato diferente dos anteriores, tem superado as expectativas. “Houve a fusão dos dois eventos que já acontecem todos os anos, com uma dimensão maior. Fazemos a interlocução dos saberes. O conhecimento dos mais jovens, e os conhecimentos científicos e acadêmicos junto com o conhecimento popular”, comentou.

Texto e fotos: Severino Lopes